O astronauta europeu Matthias Maurer, de camiseta branca, junta-se a seus companheiros do Crew-3 para abraçar um foguete Falcon 9 antes do lançamento. |
Embora a Europa tenha domínio da tecnologia espacial, o que ela não tem é uma nave própria para levar seus astronautas para fora da Terra, como em viagens para a Estação Espacial Internacional (ISS) ou outros locais. Isso, contudo, pode mudar, se um manifesto da Associação de Exploradores Espaciais da Europa seguir adiante.
Historicamente, europeus estão viajando ao espaço desde 1978, quando o alemão Sigmund Jahn subiu a bordo de uma nave russa Soyuz em direção à estação espacial Salyut 6. Entretanto, a Agência Espacial Europeia (ESA) sempre dependeu de parcerias externas para o transporte dessas viagens – ora com acordos com os russos para uso da Soyuz, ora com os norte-americanos, como é o caso da SpaceX com sua nave Crew Dragon, que levou o astronauta alemão Mathias Maurer na última entrega de tripulantes à ISS.
Embora Maurer e seus antecessores tenham elogiado os veículos onde viajaram, o desejo do novo manifesto político é o de que o Velho Continente acelere seus investimentos no programa espacial, a fim de garantir que a Europa continue sendo uma das principais potências na exploração além-Terra, junto da NASA (EUA) e Roscosmos (Rússia).
“Ainda que a Europa esteja à frente de muitos projetos espaciais, tal qual os de observação da Terra, ciências espaciais e navegação, ela ainda deixa a desejar em domínios estratégicos de transporte e exploração do espaço”, diz trecho do documento. “O Produto Interno Bruto [PIB] da Europa é comparável ao dos Estados Unidos, e mesmo assim, o investimento conjunto na exploração do espaço não chega nem mesmo a um décimo do orçamento da NASA”.
O tom ríspido não vem à toa: a NASA conta com um dos mais conhecidos veículos de transporte espacial trabalhando a seu favor, a já mencionada Crew Dragon, da SpaceX. Mais além, a agência americana deve agregar ao seu “elenco” a nave Starliner (Boeing), a cápsula Orion (desenvolvimento próprio) e até mesmo a Starship, também da SpaceX, embora esta venha passando por adiamentos repetidos em sua estreia.
Mais além, a Rússia sempre contou com a Soyuz e agora temos a China, com a linha Shenzhou e os foguetes Long March. Finalmente, a India pretende testar, dentro de dois anos, um veículo reutilizável com capacidade de transporte de carga e astronautas. Enquanto isso, a Europa ainda não tem uma nave própria, apesar de inúmeros progressos em outros campos.
O ponto é: a Europa ainda é poderosa na exploração espacial? Sim, mas quem está atrás dela, está reduzindo a diferença bem rapidamente. Embora as viagens “de carona” em veículos de outras agências tenham sido bem-sucedidas, diversos especialistas europeus argumentam que o uso contínuo deste recurso servirá apenas para enriquecer seus concorrentes (a ESA paga, por exemplo, para usar as naves da SpaceX, se não com dinheiro, por meio de parcerias variadas).
“Se perdermos essa oportunidade única de desafiarmos o status quo, precisaremos continuar a buscar transporte espacial humano de outros países, sem nenhuma garantia de que nossas demandas e valores sejam uma prioridade”, diz outro trecho. “Seremos sempre os clientes pagantes, em uma posição de fraqueza, repetindo erros do passado cometidos em outros domínios estratégicos, que nos deixaram dependentes de atores externos para nossas necessidades de energia ou desenvolvimento de tecnologia de informação. A nossa falta de ação traria mais impacto à competitividade industrial europeia: o dinheiro do contribuinte europeu seria usado para avançar a indústria espacial estrangeira”.
Embora nada tenha sido oficialmente declarado, é provável que o manifesto encontre amplo apoio na ESA. O recém-empossado diretor da agência, Josef Aschbacher, vem fazendo lobby para maiores investimentos no programa espacial europeu. Um investimento dessa linha certamente contemplará também o desenvolvimento de estruturas próprias de transporte. Em outras palavras: naves e cápsulas próprias.
Sem contar que a posição de Aschbacher em relação à crescente hegemonia da SpaceX não é das mais amistosas.
E é importante ressaltar que, paralelamente, a União Europeia (UE) recentemente divulgou uma nova proposta de investimentos na indústria aeroespacial que pede por ampliação de estruturas de exploração, observação, telecomunicações e outros pilares da indústria. A UE não citou, expressamente, “construção de uma nave própria” como um de seus objetivos, mas é bem provável que isso ocorra em algum momento.
Enquanto a Europa não conta com uma nave própria, a sua agência espacial se prepara para participar da missão Crew-4, da qual a astronauta italiana Samantha Cristoforetti assumirá a posição de comandante de uma nave Crew Dragon da SpaceX.
Com informações de ARS technica
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