A sonda Solar Orbiter, missão conjunta da NASA e Agência Espacial Europeia (ESA), atravessou novamente a cauda de um cometa. Desta vez, o encontro foi com o cometa Leonard e ocorreu em dezembro, em um momento em que nave estava relativamente próxima da Terra. A travessia rendeu uma oportunidade para a coleta de dados das partículas e o campo magnético que compõem a cauda do Leonard, e podem ajudar os astrônomos a estudar as interações entre o cometa e o vento solar.
O encontro entre a Solar Orbiter e o cometa Leonard foi previsto por Samuel Grand, estudante de pós-graduação da University College London. Ele adaptou um programa de comparação das órbitas de naves e de cometas, para incluir os efeitos do vento solar. Esta foi a segunda vez que a nave atravessou a cauda de um cometa — a primeira ocorreu em 2020, com o C/2019 Y4 ATLAS.
Aliás, a sonda não estava sozinha durante a travessia pelo cometa: as missões SOHO, STEREO-A e Parker Solar Probe estavam de longe, acompanhando tudo. Isso significa que, agora, os astrônomos não têm somente dados do interior da cauda, mas também imagens de contexto obtidas por outras naves espaciais, em outras posições.
Quando a Solar Orbiter cruzou a cauda, o núcleo do cometa estava a cerca de 44,5 milhões de quilômetros de distância de nós, mas sua cauda gigantesca alcançou a órbita da Terra e além. Até o momento, a melhor detecção dela foi fruto do conjunto de instrumentos Solar Wind Analyser (SWA), que coletou medidas de átomos, íons e até moléculas mais relacionáveis ao cometa do que a o vento solar.
O SWA-HIS identificou íons de oxigênio, carbono, nitrogênio molecular e moléculas de monóxido de carbono, dióxido de carbono e, possivelmente, água. “Como têm pequena carga, estes íons têm claramente origem cometária”, observou Stefano Livi, investigador principal do instrumento.
Cometa Leonard em detalhes
Conforme viajam pelo espaço, os cometas tendem a envolver o campo magnético do Sol ao redor deles, criando algumas áreas irregulares. Nelas, a polaridade do campo magnético muda subitamente de norte para sul e vice-versa. Os dados do magnetômetro MAG sugerem que, de fato, há estruturas que mostram perturbações neste tipo, no campo magnético observado.
Mais análises serão necessárias e algumas delas já estão em andamento. Lorenzo Matteini, investigador do MAG, explicou que a equipe está investigando perturbações magnéticas de menor escala, observadas nos dados. Depois, eles combinaram estas perturbações às medidas dos sensores de partículas da Solar Orbiter, como uma forma de tentar entender a possível origem cometária delas.
Além dos dados, a Solar Orbiter captou imagens com o instrumento Metis, um coronógrafo de comprimentos de onda múltiplos. O Metis fez registros que mostram a cabeça do cometa na luz visível e ultravioleta simultaneamente, que já estão em análise. “As imagens de luz visível podem indicar a taxa à qual o cometa está expelindo poeira, e as em ultravioleta, a taxa de produção de água”, disse Alain Corso, investigador do Metis.
As imagens obtidas pelo instrumento Solar Orbiter Heliospheric Imager (SoloHI), também da sonda, mostraram grandes porções da cauda de íons do cometa, enquanto a nave estava no interior dela. A sequência de fotos mostra mudanças na cauda, que ocorreram como resposta a variações na velocidade e direção do vento solar.
Agora, as equipes dos instrumentos da sonda estão se debruçando sobre os dados para descobrir o que eles dizem não só sobre o Leonard, mas também sobre o vento solar. “Esse tipo de ciência adicional é sempre uma parte empolgante das missões espaciais”, comentou Daniel Müller, cientista de projeto da Solar Orbiter. “Ainda há muito a esperar da Solar Orbiter, estamos apenas começando”.
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